2 - REPENSANDO CONCEITOS DE EVANGELIZAÇÃO
O
que é evangelismo? O que é evangelização?
2.1
- O conceito da Igreja Anglicana
Um
grupo de arcebispos da Igreja Anglicana definiu evangelização da seguinte
maneira:
"Evangelizar é de tal maneira apresentar a Cristo Jesus no
poder do Espírito Santo, que homens e mulheres venham a confiar em Deus através
d'Ele, aceitando-O como Salvador e servindo-O como Rei, dentro da comunhão da
Igreja."[1]
2.2 - O conceito de Lausanne
No final
dos anos 70, John Stott,[2]
ao definir a evangelização, a definição de Lausanne, diz que a natureza do
evangelismo é a comunicação das Boas Novas. O propósito do evangelismo é
oferecer às pessoas uma oportunidade válida de aceitar Jesus Cristo. O alvo do
evangelismo é persuadir homens e mulheres a aceitarem Jesus Cristo como Senhor
e Salvador servindo-O dentro da comunhão de Sua Igreja
2.3
- Problemas com estes conceitos
A discussão sobre o conceito e os
métodos de evangelismo é muito grande e por certo não foi e não será fácil
chegar a um consenso, razão pela qual a Igreja precisa estar atenta, se
realmente ela quer desenvolver adequadamente a Missão Integral da Igreja.
Os dois conceitos acima são tendentes a considerar apenas a questão
quantitativa.
2.4 - Algumas considerações sobre o
evangelismo
Vamos passar os olhos em pelo menos
oito aspectos discutidos por David J. Bosch[3] e
que precisam ser considerados com muito cuidado e sobriedade sobre o evangelismo:
2.4.1
- O evangelismo é o núcleo, o coração, o centro da missão;
2.3.2
- O evangelismo procura integrar pessoas à comunidade visível dos crentes;
2.4.3
- O evangelismo é dar o testemunho do que Deus fez, está fazendo e fará.
Não
anuncia
nada que venha de nós mesmos, mas procura dirigir a atenção das
pessoas ao que Deus fez e faz;
2.4.4
- O evangelismo é um convite; nunca deve se deteriorar ao ponto de ser uma coação e muito menos uma ameaça;
2.4.5
- O evangelismo é possível somente quando a comunidade que evangeliza - a
Igreja - é uma manifestação radiante
da fé cristã e tem um estilo de vida
atrativo;
2.4.6
- Evangelizar é correr riscos por pelo menos em dois sentidos: no primeiro, o
evangelista ou a
igreja-evangelizadora não controla a maneira pela qual o
evangelho "opera na
vida", no contexto dos seus ouvintes. O evangelho pode surpreendê-los ou perturbá-los; no segundo, a
mudança na extensão
evangelística: o verdadeiro evangelista
não pode evitar o risco de que sua
compreensão de Cristo seja
corrigida durante a evangelização;
2.4.7
- Aqueles que respondem positivamente ao evangelismo recebem a salvação
como um dom presente e com ela a
certeza da bênção eterna;
2.4.8
- O evangelismo não oferece apenas um oportunidade pessoal a indivíduos. O
evangelismo é chamar as pessoas a se
tornarem discípulos de Jesus, é
envolver as pessoas com a missão,
uma missão tão ampla como a de Jesus.
2.5 - O
conceito bíblico Neo-testamentário
Para
repensar a evangelização, é preciso ver a origem do termo, e em qual sentido ele era empregado por aqueles que
primeiramente o usaram.
A palavra evangelismo vem do termo
grego EVAGGELÍZO que se refere ao conteúdo da
palavra, à boa mensagem, às boas novas do reino vindouro de Deus, e da salvação
nele outorgada por intermédio de Cristo, e do que se relaciona com esta
salvação. Evangelizar é palavra que vem do grego; o infinitivo é EVANGGELÍZEIN;
na voz média é EVAGGELÍZOMAI é trazer ou anunciar o evangelho, do grego EVAGGELION, as boas novas do Messias de Deus.
Percebe-se que evangelizar é
proclamar, anunciar a boa nova - o reino do céus (ou de Deus) chegou. Esta é a
boa nova. Jesus Cristo veio, está presente e vai voltar. Mas, o que é, ou como
é o proclamar? proclamar é anunciar como arauto.
Neste caso precisamos ver alguns
exemplos de arautos:
2.5.1 - Em Gn 41.41-43 entendemos
que José tinha uma posição especial, roupa
especial o povo sabia que era
oficial do rei.
2.5.2 - Em Lc 3 João Batista é tido
como o arauto, o precursor do Senhor.
2.5.3 - Quando olhamos para a vida
do nosso querido Senhor e Salvador Jesus
Cristo percebemos que
não se pode separar a mensagem da pessoa do arauto.
Desta forma podemos entender que o
proclamar está relacionado com a vida do arauto; sua maneira de vestir, de
falar, de ser, de trabalhar. Relaciona-se àquilo que nós somos.[4]
A ênfase não é no que faz e sim no que é em Cristo. É uma questão de vida e de
palavra. O correto é: eu falo porque sou arauto. O errado é como muitos estão
vivendo e dizendo: eu sou arauto porque
falo.[5]
O povo precisa ouvir e ver. Às vezes os olhos são maiores que os ouvidos. Neste
caso o arauto não pode se esquecer que seu compromisso é com o Rei - ele é por
causa daquilo que o Rei é e pelo que o Rei falou. Ele é leal ao Rei e à palavra
do Rei.[6]
É questão de vida e palavra.
No desenvolvimento da Missão
Integral, a Igreja se envolve plena e completamente em todos os aspectos da
vida do ser humano. Ela não pode vê-lo e tratá-lo como um ser dicotomizado, e
descontextualizado. A evangelização não pode ser medida que ensina uma coisa e
faz outra. Ela não pode ver o homem ora como um ser que é espiritual e ora com
um ser que é material. Esta dicotomia está levando a evangelização ao extremo,
tratando-o ora como um cidadão celestial, que nada tem a haver com a pátria
terrestre; ou o contrário, como um cidadão terrestre, que nada tem a haver com
a pátria celestial. E podemos confessar, não é fácil manter o fiel da balança
exatamente no meio.
2.6 - O nosso conceito
Seguindo o raciocínio da análise da
estrutura da MISSIO-DEI /MISSIO-ECCLESIAE, afirmamos que a evangelização
é um processo e não apenas a aplicação de técnicas que garantirão para
as igrejas alguns dividendos humanos, e a definimos da seguinte maneira: A
evangelização é o trabalho que a Igreja faz, debaixo do poder do Espírito
Santo, para mostrar ao homem que ele está afastado do Deus Eterno, o criador e
sustentador de todas as coisas, que ele não é submisso a Ele, o único Deus
verdadeiro, por livre e espontânea vontade. Razão pela qual ele, ao mesmo tempo
que é escravo, escravisa o outro, desenvolvendo um tremendo processo de
injustiça, que leva o homem à desintegração, à degeneração de sua raça. A
evangelização é também, o anúncio de que este mesmo Deus preparou para o homem
a maneira correta de se voltar para Deus, por livre e espontânea vontade, e
colocar sua vida debaixo do domínio, do poder, da soberania, da autoridade e da
dignidade de Deus, fazendo um convite para este homem receber a Jesus Cristo
como Senhor e Salvador, confessando os seus pecados, abandonando e trabalhando
contra toda forma de injustiça, colocando sua vida à disposição da Sua missão,
para, na Sua comunhão, buscar outros homens perdidos.
Ao desenvolvermos esta afirmação, levamos em consideração os
seguintes pontos:
2.6.1
- a evangelização não pode ser definida em termos de resultados porque não é
este o sentido dado
pelos autores do novo testamento;
2.6.2
- a evangelização não pode ser definida em termos de métodos;
2.6.3
- a evangelização pode e deve ser definida somente em termos da mensagem,
através dos eventos,
dos testemunhos, das promessas e das exigências do
evangelho.
2.7
- Quatro formas de evangelização usados na Igreja primitiva
A
Igreja precisa repensar as quatro formas de evangelização mais usadas
atualmente como sendo:
2.7.1
- contar boas notícias, do grego euaggelizesthai = contar as boas notícias do
Reino
de Deus ou simplesmente daquele que começa este reino, Jesus.
Contar
as boas novas do Reino, mantendo Jesus no centro das boas novas.
2.7.2
- proclamação, do grego kerygma = pregação, anúncio, denúncia, ensino, para
apresentar ao homem todo conselho de
Deus, e o conselho todo;
2.7.3
- presença, do grego martyria = dar testemunho de vida, de conduta, a
diaconia;
2.7.4
- persuasão, do grego apologia = apologética, discussão, onde nem sempre
existe lugar para o diálogo. Esta
tem sido uma arma muito usado por aqueles
que, não respeitando a dignidade do
outro, o manipula
desavergonhadamente,
em defesa do reino. Não são poucos os casos
conhecidos
em que a hostilidade e a abordagem rude manifesta a dificuldade
de
conquistar a amizade e a boa-vontade
do
outro conduzindo-o, muitas vezes, por um caminho amargo, duro, através
da
agressão e da zombaria.[7]
Este repensar deve ser feito levando
em conta que o evangelho é realmente o evangelho do Reino, e que este Reino é a
expressão detalhada do cuidadoso controle de Deus sobre a totalidade da vida.
Desta forma a Igreja não pode se esquecer que ela está envolvida com o Deus que
por natureza de Seu reinado sustenta a justiça e a eqüidade, cuida dos
estrangeiros, das viúvas e dos órfãos e liberta os pobres e os presos.
Seguindo
esta linha de pensamento, podemos deixar para discussão a maneira como David J.
Bosch[8]
resume o evangelismo:
"O evangelismo se pode definir como aquela dimensão e atividade
da Missão da Igreja que procura oferecer a cada pessoa, em todas as partes, uma
oportunidade válida de ser desafiada diretamente pelo evangelho de fé explícita
em Jesus Cristo, com a visão de entregar-se a ele como Salvador, fazer-se
membro vivo de sua comunidade e arrolar-se em seu serviço de reconciliação, paz
e justiça na terra."
Continuamos a nossa
longa caminhada na introdução ao evangelismo. Sabe, isso faz bem à
saúde! Continuaremos! No próximo artigo conversaremos um pouco sobre a
base bíblica do evangelismo. Quais os princípios apresentados na Bíblia
devem ser aplicados no evangelismo?
Deus nos abençoe!
Stephenson Soares Araújo.
12/01/2009.
[1] - Devo esta citação a WAGNER, Peter. Estratégias para o
Crescimento da Igreja. 1ª ed., São Paulo: Sepal, 1991. p 139. Nas
páginas de 123 a 142 ele faz uma discussão sobre como usar a evangelização para
promover o crescimento quantitativo da Igreja. Na página 141, ele também
comenta sobre a definição de Laussane, e
afirma que gosta de todas duas porque ele é daqueles tipo de pessoa que se
orienta por objetivos e a ele agrada o "fazer de tal
maneira...que.."
[2] - - STOTT, John R. W. The Biblical Basis of Evangelism.
In: LAUSANNE. International Congress on World Evangelization. Let The
Earth Hear His Voice. J. D. Douglas (ed.), n. print., Minneapolis:
World Wide, 1975. p 68-71. (Traducão nossa.).
[3] - Para uma melhor compreensão desta discussão, deve ser lido o
texto completo de: BOSCH, David J. Evangelismo. In: Mission.
Dezembro de 1977. p 7-14. (O destaque e a tradução são nossos.).
[4]- Veja At 1.8. “Sereis” minhas testemunhas, disse o Senhor Jesus. É
questão de ser!...
[5]- Neste caso é preciso dar uma estudada em I Co 2.
[6]- Veja I Co 4.1-5.
[7]- Para uma melhor compreensão desta realidade o leitor deve ler o
trabalho de Michael Green sobre os Métodos de Evangelização na Igreja
Primitiva, principalmente a parte que fala sobre a Evangelização pela
Literatura, pags: 273 - 279; In: GREEN,
Michael. A Evangelização na Igreja Primitiva. 1ª ed. São Paulo: Vida
Nova. 1984. 341 p.
[8] - Ibid., p 13. (tradução nossa.).