sábado, 17 de setembro de 2011

REPENSANDO CONCEITOS DE EVANGELIZAÇÃO



2 - REPENSANDO  CONCEITOS DE EVANGELIZAÇÃO

            O que é evangelismo? O que é evangelização?

            2.1 - O conceito da  Igreja Anglicana

            Um grupo de arcebispos da Igreja Anglicana definiu evangelização da seguinte maneira:

"Evangelizar é de tal maneira apresentar a Cristo Jesus no poder do Espírito Santo, que homens e mulheres venham a confiar em Deus através d'Ele, aceitando-O como Salvador e servindo-O como Rei, dentro da comunhão da Igreja."[1]

2.2 - O conceito de Lausanne

            No final dos anos 70, John Stott,[2] ao definir a evangelização, a definição de Lausanne, diz que a natureza do evangelismo é a comunicação das Boas Novas. O propósito do evangelismo é oferecer às pessoas uma oportunidade válida de aceitar Jesus Cristo. O alvo do evangelismo é persuadir homens e mulheres a aceitarem Jesus Cristo como Senhor e Salvador servindo-O dentro da comunhão de Sua Igreja

            2.3 - Problemas com estes conceitos

            A discussão sobre o conceito e os métodos de evangelismo é muito grande e por certo não foi e não será fácil chegar a um consenso, razão pela qual a Igreja precisa estar atenta, se realmente ela quer desenvolver adequadamente a Missão Integral da Igreja. Os dois conceitos acima são tendentes a considerar apenas a questão quantitativa.

            2.4 - Algumas considerações sobre o evangelismo

            Vamos passar os olhos em pelo menos oito aspectos discutidos por David J. Bosch[3] e que precisam ser considerados com muito cuidado e sobriedade sobre o  evangelismo:


            2.4.1 - O evangelismo é o núcleo, o coração, o centro da missão;
            2.3.2 - O evangelismo procura integrar pessoas à comunidade visível dos crentes;
            2.4.3 - O evangelismo é dar o testemunho do que Deus fez, está fazendo e fará. Não 
                        anuncia nada que venha de nós mesmos, mas procura dirigir a atenção das
                        pessoas ao que Deus fez e faz;
            2.4.4 - O evangelismo é um convite; nunca deve se deteriorar ao ponto de ser uma                       coação e muito menos  uma ameaça;
            2.4.5 - O evangelismo é possível somente quando a comunidade que evangeliza - a
                       Igreja - é uma manifestação radiante da fé cristã e tem um estilo de vida
                       atrativo;
            2.4.6 - Evangelizar é correr riscos por pelo menos em dois sentidos: no primeiro, o
                        evangelista ou a igreja-evangelizadora não controla a maneira pela qual o
                        evangelho "opera na vida", no contexto dos seus ouvintes. O evangelho pode                         surpreendê-los ou perturbá-los; no segundo, a mudança na extensão     
                        evangelística: o verdadeiro evangelista não pode evitar o risco de que sua
                        compreensão de Cristo seja corrigida durante a evangelização;
            2.4.7 - Aqueles que respondem positivamente ao evangelismo recebem a salvação
                        como um dom presente e com ela a certeza da bênção eterna;
            2.4.8 - O evangelismo não oferece apenas um oportunidade pessoal a indivíduos. O
                       evangelismo é chamar as pessoas a se tornarem discípulos de Jesus, é 
                       envolver as pessoas com a missão, uma missão tão ampla como a de Jesus.

            2.5 - O conceito bíblico Neo-testamentário

            Para repensar a evangelização, é preciso ver a origem do termo, e em qual  sentido ele era empregado por aqueles que primeiramente o usaram.
            A palavra evangelismo vem do termo grego EVAGGELÍZO que se refere ao conteúdo da palavra, à boa mensagem, às boas novas do reino vindouro de Deus, e da salvação nele outorgada por intermédio de Cristo, e do que se relaciona com esta salvação. Evangelizar é palavra que vem do grego; o infinitivo é EVANGGELÍZEIN; na voz média é EVAGGELÍZOMAI  é trazer ou anunciar o evangelho, do grego EVAGGELION, as boas novas do Messias de Deus.
            Percebe-se que evangelizar é proclamar, anunciar a boa nova - o reino do céus (ou de Deus) chegou. Esta é a boa nova. Jesus Cristo veio, está presente e vai voltar. Mas, o que é, ou como é o proclamar? proclamar é anunciar como arauto.
            Neste caso precisamos ver alguns exemplos de arautos:
            2.5.1 - Em Gn 41.41-43 entendemos que José tinha uma posição especial, roupa
                        especial o povo sabia que era oficial do rei.
            2.5.2 - Em Lc 3 João Batista é tido como o arauto, o precursor do Senhor.
            2.5.3 - Quando olhamos para a vida do nosso querido Senhor e Salvador Jesus
                        Cristo percebemos que não se pode separar a mensagem da pessoa do arauto.

            Desta forma podemos entender que o proclamar está relacionado com a vida do arauto; sua maneira de vestir, de falar, de ser, de trabalhar. Relaciona-se àquilo que nós somos.[4] A ênfase não é no que faz e sim no que é em Cristo. É uma questão de vida e de palavra. O correto é: eu falo porque sou arauto. O errado é como muitos estão vivendo e dizendo:  eu sou arauto porque falo.[5] O povo precisa ouvir e ver. Às vezes os olhos são maiores que os ouvidos. Neste caso o arauto não pode se esquecer que seu compromisso é com o Rei - ele é por causa daquilo que o Rei é e pelo que o Rei falou. Ele é leal ao Rei e à palavra do Rei.[6] É questão de vida e palavra.
            No desenvolvimento da Missão Integral, a Igreja se envolve plena e completamente em todos os aspectos da vida do ser humano. Ela não pode vê-lo e tratá-lo como um ser dicotomizado, e descontextualizado. A evangelização não pode ser medida que ensina uma coisa e faz outra. Ela não pode ver o homem ora como um ser que é espiritual e ora com um ser que é material. Esta dicotomia está levando a evangelização ao extremo, tratando-o ora como um cidadão celestial, que nada tem a haver com a pátria terrestre; ou o contrário, como um cidadão terrestre, que nada tem a haver com a pátria celestial. E podemos confessar, não é fácil manter o fiel da balança exatamente no meio.

            2.6 - O nosso conceito

            Seguindo o raciocínio da análise da estrutura da MISSIO-DEI /MISSIO-ECCLESIAE, afirmamos que a evangelização é um processo e não apenas a aplicação de técnicas que garantirão para as igrejas alguns dividendos humanos, e a definimos da seguinte maneira: A evangelização é o trabalho que a Igreja faz, debaixo do poder do Espírito Santo, para mostrar ao homem que ele está afastado do Deus Eterno, o criador e sustentador de todas as coisas, que ele não é submisso a Ele, o único Deus verdadeiro, por livre e espontânea vontade. Razão pela qual ele, ao mesmo tempo que é escravo, escravisa o outro, desenvolvendo um tremendo processo de injustiça, que leva o homem à desintegração, à degeneração de sua raça. A evangelização é também, o anúncio de que este mesmo Deus preparou para o homem a maneira correta de se voltar para Deus, por livre e espontânea vontade, e colocar sua vida debaixo do domínio, do poder, da soberania, da autoridade e da dignidade de Deus, fazendo um convite para este homem receber a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, confessando os seus pecados, abandonando e trabalhando contra toda forma de injustiça, colocando sua vida à disposição da Sua missão, para, na Sua comunhão, buscar outros homens perdidos.

            Ao desenvolvermos esta afirmação, levamos em consideração os seguintes pontos:

            2.6.1 - a evangelização não pode ser definida em termos de resultados porque não é
                        este o sentido dado pelos autores do novo testamento;
            2.6.2 - a evangelização não pode ser definida em termos de métodos;
            2.6.3 - a evangelização pode e deve ser definida somente em termos da mensagem,
                        através dos eventos, dos testemunhos, das promessas e das exigências do
                        evangelho.

            2.7 - Quatro formas de evangelização usados na Igreja primitiva

            A Igreja precisa repensar as quatro formas de evangelização mais usadas atualmente como sendo:
            2.7.1 - contar boas notícias, do grego euaggelizesthai = contar as boas notícias do
                        Reino de Deus ou simplesmente daquele que começa este reino, Jesus.
                        Contar as boas novas do Reino, mantendo Jesus no centro das boas novas.
            2.7.2 - proclamação, do grego kerygma = pregação, anúncio, denúncia, ensino, para                    apresentar ao homem todo conselho de Deus, e o conselho todo;
            2.7.3 - presença, do grego martyria = dar testemunho de vida, de conduta, a
                        diaconia;
            2.7.4 - persuasão, do grego apologia = apologética, discussão, onde nem sempre
                        existe lugar para o diálogo. Esta tem sido uma arma muito usado por aqueles
                        que, não respeitando a dignidade do outro, o manipula
                        desavergonhadamente, em defesa do reino. Não são poucos os casos
                        conhecidos em que a hostilidade e a abordagem rude manifesta a dificuldade
                        de conquistar a amizade e a boa-vontade     
                        do outro conduzindo-o, muitas vezes, por um caminho amargo, duro, através
                        da agressão e da zombaria.[7]

            Este repensar deve ser feito levando em conta que o evangelho é realmente o evangelho do Reino, e que este Reino é a expressão detalhada do cuidadoso controle de Deus sobre a totalidade da vida. Desta forma a Igreja não pode se esquecer que ela está envolvida com o Deus que por natureza de Seu reinado sustenta a justiça e a eqüidade, cuida dos estrangeiros, das viúvas e dos órfãos e liberta os pobres e os presos.
            Seguindo esta linha de pensamento, podemos deixar para discussão a maneira como David J. Bosch[8] resume o evangelismo:

"O evangelismo se pode definir como aquela dimensão e atividade da Missão da Igreja que procura oferecer a cada pessoa, em todas as partes, uma oportunidade válida de ser desafiada diretamente pelo evangelho de fé explícita em Jesus Cristo, com a visão de entregar-se a ele como Salvador, fazer-se membro vivo de sua comunidade e arrolar-se em seu serviço de reconciliação, paz e justiça na terra."

Continuamos a nossa longa caminhada na introdução ao evangelismo. Sabe, isso faz bem à saúde! Continuaremos! No próximo artigo conversaremos um pouco sobre a base bíblica do evangelismo. Quais os princípios apresentados na Bíblia devem ser aplicados no evangelismo?
Deus nos abençoe!

Stephenson Soares Araújo.
12/01/2009.


[1] - Devo esta citação a WAGNER, Peter. Estratégias para o Crescimento da Igreja. 1ª ed., São Paulo: Sepal, 1991. p 139. Nas páginas de 123 a 142 ele faz uma discussão sobre como usar a evangelização para promover o crescimento quantitativo da Igreja. Na página 141, ele também comenta sobre a definição de Laussane,  e afirma que gosta de todas duas porque ele é daqueles tipo de pessoa que se orienta por objetivos e a ele agrada o "fazer de tal maneira...que.."
[2] - - STOTT, John R. W. The Biblical Basis of Evangelism. In: LAUSANNE. International Congress on World Evangelization. Let The Earth Hear His Voice. J. D. Douglas (ed.), n. print., Minneapolis: World Wide, 1975. p 68-71. (Traducão nossa.).
[3] - Para uma melhor compreensão desta discussão, deve ser lido o texto completo de: BOSCH, David J. Evangelismo. In: Mission. Dezembro de 1977. p 7-14. (O destaque e a tradução são nossos.).
[4]- Veja At 1.8. “Sereis” minhas testemunhas, disse o Senhor Jesus. É questão de ser!...
[5]- Neste caso é preciso dar uma estudada em I Co 2.
[6]- Veja I Co 4.1-5.
[7]- Para uma melhor compreensão desta realidade o leitor deve ler o trabalho de Michael Green sobre os Métodos de Evangelização na Igreja Primitiva, principalmente a parte que fala sobre a Evangelização pela Literatura, pags: 273 - 279;  In: GREEN, Michael. A Evangelização na Igreja Primitiva. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova. 1984. 341 p.
[8] - Ibid., p 13. (tradução nossa.).


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