quinta-feira, 31 de março de 2011

A Igreja


A Igreja é a instituição do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É a Ekklesía[1] e a Koinonia, é a reunião e a comunhão dos remidos do Senhor com o Seu Senhor e de uns com os outros. A Ekklesía é a assembléia dos munícipes para tratar dos assuntos, do governo, da polis. Nesta simbologia maravilhosa os remidos do Senhor são separados, retirados do governo deste da carne, deste mundo tenebroso, da morte, das trevas, do inferno e vivem na Koinonía, na comunhão, debaixo da autoridade, da dignidade, do domínio, do governo, do poder e da soberania de Deus,
Ela cresce normalmente, de forma espontânea, sob a ação do Espírito Santo que a capacita com dons para que todos sejam tratados, sarados e edificados..
Quando voltamos os nosso olhos para o ensino do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo entendemos que a Igreja, o Seu Corpo, é o sujeito executivo da missão que Deus deixou aqui na terra. O texto bíblico nos faz pensar na Igreja Universal e na igreja local.[2]

3.2.2.1 - Quanto à Igreja Universal  
> Germina. [3]
> Recebe treinamento.[4]
> Recebe a ordem ou comissão.[5]                                                             
> Recebe a promessa.[6]
> Recebe a capacitação. [7]                              
> O Senhor está sempre no meio dela.[8]
> Será arrebatada.[9]

3.2.2.2 - Quanto à igreja Local > Voltemos os nossos olhos para Mt 18.15-20 e At 13.1-4.
            É preciso não perder de vista o conceito dinâmico de Igreja; encontrar e entender e viver o conceito de Igreja, da perspectiva do Reino de Deus (autoridade, dignidade, domínio, governo, poder e soberania de Deus). De acordo com os ensinos do Novo Testamento pode-se conceituar Igreja como sendo: o organismo criado e estabelecido por Deus para tratamento do eu e do outro doentes, enfermos, a fim de que e até que sejam aperfeiçoados segundo a imagem de Cristo mesmo.[10] Assim será possível perceber como este conceito é diferente do conceito de uma comunidade pois o Reino de Deus é dinâmico. Não é questão de limite geográfico, estático.

            Hoje sabe-se que não existe uma comunidade, no sentido original da palavra, onde todos fazem e buscam o que é comum para todos, afim de todos poderem usufruir do mesmo bem comum. Os diversos interesses manifestados no grupo social dos crentes têm desvirtuado o real sentido de comunidade. Além disso, é preciso tomar cuidado com a institucionalização da igreja tentando dar-lhe uma estrutura que seja bíblica. De fato a Igreja é uma instituição do Senhor Jesus Cristo. Mas quando o homem, na igreja local lhe dá uma estrutura que não tem nada a haver com o Reino de Deus, ela sofre muito. A história tem demonstrado que muitas destas estruturas têm engessado a igreja local impedindo-a de realizar a missão que ela recebeu do Senhor Jesus Cristo.
            Desta forma, quando pensamos em um projeto de crescimento da Igreja devemos definir ou estabelecer a diferença entre forma e sentido/significado, estrutura e princípios. Entendemos pela leitura do Novo Testamento que o princípio é dinâmico; a estrutura não! O nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo deixou princípios muito claros pelos quais a Igreja deve se nortear. No entanto, Ele não demonstra estar preocupado com a forma ou estrutura.
            Além disso, devemos não nos esquecer que a igreja é a  Ekklesía,[11] onde se desenvolve a koinonía entre Deus/homem e homem/homem, ainda que os interesses que motivam os homens sejam diversos. Ela foi instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que a edifica e capacita.[12]
            Veja que o Senhor Jesus Cristo tem um compromisso direto com a Igreja que é d'Ele mesmo e, é para esta Igreja que Ele dá a comissão da missão, cujo sentido básico diz respeito apenas a refletir a dignidade, a santidade, a sabedoria e a proteção de Deus, para todas as famílias da terra, que hoje nós chamamos de missão integral,[13] garantindo estar com ela todos os dias até à consumação do século;[14] e é à esta Igreja que Ele chama a atenção para  ouvir o que o  Espírito  Santo  diz.[15]
            Ao ouvir e atender ao chamamento do Espírito Santo a Igreja descobre os dons que existem dentro dela e deixa de correr o risco de cair na síndrome de Marcos seis: a síndrome da incredulidade.[16] Os parentes de Jesus Cristo não criam que Ele era o salvador, o messias. Muitos membros da Igreja não crêm que Deus pode usar todos os membros no sacerdócio de Deus.

            Somos Igreja! Mas, que tipo de igreja somos? Que tipo de igreja queremos ser? Como eu posso cooperar para que a igreja seja aquela que queremos? Quantos e quais dons espirituais eu recebi de Deus? Quantos dons naturais Deus me deu? Estou empregando os dons que Deus me deu na obra do Senhor? Como posso empregar os dons naturais que Deus me deu na obra do Senhor? Como posso empregar os dons espirituais que Deus me deu na obra do Senhor?
            A igreja que vive segundo a orientação e capacitação do Espírito Santo sabe perfeitamente que a missão não é primariamente sua e muito menos um modismo. Ela não cairá na onda que diz: agora está em moda falar de missões, e nem ficará num desvairado frenesi a querer desenvolver e executar uma técnica aqui, outra ali, outra além. Ela sabe que a missão é antes de tudo obra do Espírito Santo e que é para todo o tempo.

           A igreja que não aprendeu e que não vive os princípios do Evangelho de Cristo Jesus o nosso Senhor e Salvador não conhece a sua missão. Sem a Palavra de Deus, sem a visão de Deus, sem a revelação de Deus ela vai cair na improvisação, no laissez-faire onde cada um faz o que bem entende e o que quer com interesse no externo, no material e nos rebolados desenvolvidos de acordo com os princípios e o governo deste mundo tenebroso, sem nenhuma perspectiva e expectativa quanto ao seu ministério.[17] Se não tem expectativas não tem objetivos definidos.

           A Igreja se propaga e se planta no meio dos vários povos de maneira espontânea. Ninguém exerce um controle sobre esta propagação e plantação. Sem deixar de mencionar o trabalho maravilhoso dos pastores, dos obreiros, dos missionários, é evidente que a maioria dos crentes, gente de vida simples e humilde mas de caráter firme e sadio e uma qualidade de vida cristã inabalável anunciam sua fé em Cristo em qualquer circunstância, em qualquer lugar, estejam em liberdade ou em perseguição, em luta ou na tranqüilidade, em escassez ou em abundância de bens materiais. Assim eram as igrejas do Novo Testamento e do princípio da era cristã até o ano 300.
           
Donald McGavran diz o seguinte:
           
“Se hoje queremos um crescimento de igrejas como o do Novo Testamento, florescendo no clima do Novo Testamento, nós também devemos ser homens do Novo Testamento. Realmente podemos nos sentir em casa, na atmosfera da igreja do Novo Testamento, com milagres acontecendo entre nós, nossos diáconos e líderes sendo mártires e nossos membros correndo para fora da cidade?”

            A igreja existe como testemunha de Jesus Cristo no meio da sociedade. Ela tem que viver e demonstrar diariamente as implicações de Mt 5, 6 e 7. Das lições que aprendemos sobre a Igreja em Atos dos Apóstolos, enumeramos as seguintes:
            - a igreja desfrutava do favor do povo;
            - ela evangelizava, ganhava almas;
            - ela cuidava dos pobres e necessitados;
            - ela tinha uma liderança forte;
            - ela vivia no temor do Senhor;
            - ela era unida na oração e no partir do pão;
            - nela havia poder visto por sinais e milagres;
            - nela havia alegria no meio da adversidade;
            - ela tinha vontade de resolver seus problemas sob a direção do
               Espírito Santo;
            - Ela era guiada pelas Escrituras;
Hesselgrave diz que: “A Igreja é ordenada por Deus para conservar e transmitir a Sua verdade.”[18]

            Se hoje as circunstância desta propagação e plantação nos exigem uma estrutura para a igreja, vamos fazê-la para conduzi-la à maturidade dentro da flexibilidade que permite o livre trânsito e operação do Espírito Santo, a participação espontânea do crente, sempre valorizando mais as pessoas, que precisam crescer, para quem a estrutura foi montada, do que a própria estrutura. Não se esquecendo que a vida espiritual vem antes do crescimento espiritual. No entanto, não se pode perder de vista que para ter vida espiritual é preciso nascer de novo: novo nascimento vem antes de vida espiritual.
            Como formar uma organização básica que poderá fornecer a orientação e a cooperação para estender as fronteiras da Igreja, definindo objetivos gerais e específicos, estrutura e funcionamento?

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Apenas começamos a esboçar algumas linhas gerais de pensamento sobre a Igreja. O assunto não está concluído. Há muito o que aprender; há muito que viver. Continuaremos, numa outra oportunidade.
Deus nos abençoe!

Stephenson Soares Araújo.
07/09/1993.



 [1]- Veja Mt 16.18.
 [2]- Usamos o termo Igreja com “I” como o encontramos no Novo Testamento, designando o corpo de Jesus Cristo, a reunião dos remidos do Senhor de modo universal; e o termo igreja local com “i” designando os vários seguimentos denominacionais existentes por este vasto mundo. Veja Mt 16.18; 18.17.
 [3]- Veja Mt 16.18.
 [4]- Todos os quatro evangelhos nos ensinam que a Igreja foi treinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Mas veja Mt 10.
 [5]- Conforme Mt 28.18-20; Mc 16.15 e Lc 24.44-49.
 [6]- Em Mt 28.20 ocorre o início da promessa da capacitação advinda da realidade da presença de Jesus mesmo com seus discípulos até os fins do tempo ou seja até o fim do século. Mas em Lc 24.49 bem como em Jo 16.12-15 a promessa é reiterada trazendo à memória aquela feita pelo Pai, lá em Isaías (Is 44), Ezequiel (Ez 36) e em Joel (Jl 2.28-32), assim como ela é reforçada em At 1.8.
[7]- A narrativa do cumprimento desta capacitação como descrita em At 2.4 nos impressiona por ver o Espírito Santo fazer o reverso de Babel. Lá ninguém entendia ninguém! Aqui os discípulos falavam em outras línguas, em línguas que eles não entendiam, não tinham estudado, mas os povos estavam entendendo o que se falava!... Encontramos  o mínimo de  16 (18) nações, povos, ouvindo a mensagem de Deus, em suas próprias línguas:  At 2.9 = 8 línguas, At 2.10 = 6 (8) línguas, At 2.11 = 2 línguas.
[8]- Veja Mt 28.20; Ap 1.12-2.1.
[9]- Conforme I Ts 4.13-18; II Ts 2.1-12.
  [10] - Veja a beleza deste ensinamento em Ef 4.7-16 e Cl 3.12-17.
[11]- A palavra Ekklesía aparece 115 vezes no Novo Testamento. 2 vezes nos evangelhos: só em Mt 16.18 e 18.17. 24 vezes em Atos; 6 vezes em Hb, Tg e Jo; 20 vezes em Apocalipse. Seu maior uso é nas cartas de Paulo.
 [12]- Veja  Mt 16.18-19; Ef 4.13.
 [13]- No desenvolvimento da missão integral a Igreja toda trabalha junto com Deus, conforme Sua orientação, segundo a visão integral que Deus tem do homem, para suprir todas as suas necessidades. Na missão integral não se dicotomiza ou tricotomiza o homem.A Igreja se reune para orar (At 2.42; 4.24, 31; 12.5), para levar a Palavra de Deus (At 2.42; 15.21,30-31), para o partir do pão (At 2.42; 20.7), para ouvir a pregação (At 20.7), para aprender a doutrina (At 2.42), para a adoração (At 2.47) e para enviar os apóstolos (missionários) (At 13.1-4).
 [14]- Conforme, Mt 28.18-20.
[15]- Veja Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22.
 [16] - Veja Mc 6.1-6.
[17] - Veja Pv 29.18. 
[18] - Veja I Pe 2.9.

domingo, 20 de março de 2011

O Pastor e a Missão da Igreja


Eis aqui três realidades incontestes. Elas estão intimamente ligadas; são interdependentes. Nenhuma existe sem a outra, embora sejam distintas. Elas não são geradas de si mesmas. São geradas por outra realidade. O maior, o único, Deus.

Ainda que o título do presente artigo apresenta o pastor e a missão da Igreja vamos traçar um caminhar  de reflexão do status e papel pastoral a partir da missão. Ele existe por causa  dela. Gastaremos um bom tempo refletindo sobre o Pastor, a Igreja e a Missão. É reflexão de vida. 

1 - A MISSÃO

A Missão não existe de si mesma. Ela depende de sujeitos. Ela é de alguém e é desenvolvida por alguém. Como repensar o conceito da Missão? A princípio, deve-se entender que este termo não existe na Bíblia e é polissêmico.

Missão vem dos verbos mittere e missum[1] do latim, cujo sentido próprio é deixar ir, deixar partir, soltar, largar, e posteriormente significou mandar, enviar, licenciar, despedir. Neste caso existe uma correlação com o verbo grego àpostéllo que também significa enviar. O substantivo feminino missiõnis tem o sentido próprio de despedida, soltura, libertação, mas cujo significado moral[2] é a ação de enviar, o envio. O substantivo masculino missus tem o sentido próprio de deixar ir ou enviar. O verbo missitõ tem o significado de mandar, enviar muitas vezes, repetidamente. Os termos latinos, normalmente, se referem àquele que enviou, que mandou, que emitiu autoridade. Missor é aquele que lança, que envia, que deixa ir.

Missão significa encargo, incumbência, mandato. Mandato significa autorização que alguém confere a outrem para praticar, em seu nome, certos atos para o seu bem. Isto é diferente de mandado, que significa aquele a quem mandaram, ordem escrita, que emana de autoridade judicial ou administrativa.

Antes de ampliar e aplicar o conceito, deve-se atentar ao fato, deduzido da análise da origem latina do termo, que a missão envolve, pelo menos, dois sujeitos: o enviador e o enviado. Além disso, percebe-se a  existência de um relacionamento íntimo entre eles, posto estarem trabalhando,  para atingir um objetivo comum, cujo maior interesse diz respeito ao enviador.

A história bíblica da criação do universo e do homem demonstra a vívida, profícua e produtiva relação entre o criador e a obra criada.[3] Mas um detalhe muito importante, e que não pode ser desprezado, aparece quando Deus delimita a liberdade de ação do homem, para proteção e manutenção deste relacionamento e da vida mesma.[4] No entanto, o limite foi ultrapassado.[5] O relacionamento foi quebrado em dois níveis: criador/criatura e criatura/criatura.[6] Então o texto bíblico revela que o próprio Deus toma a iniciativa de reatar este relacionamento e define a estrutura e o modelo, a maneira como isto será realizado.[7]

2 -  A MISSIO-DEI

            A este trabalho de reatar o relacionamento quebrado, denominamos de MISSIO-DEI, ou seja, A MISSÃO DE DEUS: O próprio Deus está trabalhando para libertar o homem, escravo de si mesmo, do pecado e de satanás, trazendo-o de volta à verdadeira comunhão com Deus mesmo, e com o próximo, reatando o relacionamento quebrado. É ainda o trabalho que Deus faz, para capacitar o homem, para que este execute em nome de Deus, o trabalho de levar a mensagem da boa nova de redenção, da disposição de Deus em reatar o relacionamento quebrado, para que estes se voltem para junto de Deus, para o bem do homem e para a glória do próprio Deus.
            Veja que a Missio-Dei, somente Deus pode executar. Somente Deus pode trazer de volta a Ele o homem que d'Ele se afastou. Somente o Espírito Santo convence e converte o homem a Deus e capacíta-o a levar a mensagem da redenção para os outros homens.[8]


3 - A MISSIO-ECCLESIAE

            O Deus eterno, o todo poderoso, não trabalha sozinho. Quando da criação do homem, Ele usa o verbo fazer no plural: façamos, mostrando que Ele age em grupo,[9] aquilo que podemos denominar de comunidade celestial, a família celestial. Depois, ele manda  ao homem, administrar adequadamente a obra criada, numa demonstração de confiança e aceitação.[10] Disposto a abençoar todas as famílias da terra, ele chama um rapaz por nome Abrão, faz com ele uma aliança, envía-o com esta tarefa específica e lhe muda o nome para Abraão.[11]
            Mais adiante, o próprio Deus, o Deus impossível de se ver, manifesta-se aos homens na pessoa do Senhor Jesus Cristo, para consumar a obra do restabelecimento do relacionamento vivo entre Deus/homem e homem/homem. Quando de sua volta aos céus, o Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos que fossem a todos os cantos da terra, a todas as nações, a todos os povos, para fazer dentre eles, novos discípulos para o Senhor mesmo. No entanto, ele não os deixou sozinhos, desamparados. Ele mesmo prometeu estar com eles, e isto naturalmente nos faz entender o Seu carinhoso trabalho na manutenção do relacionamento, até aos fins dos séculos.[12]
            Para John Stott:[13]

"Missão é uma atividade de Deus, originada da própria natureza de Deus. O Deus vivo da Biblia é um Deus enviador, o que é o significado próprio de missão. Ele enviou os profetas para Israel. Ele enviou Seu Filho para o mundo. Seu Filho enviou os apóstolos, os setenta e a Igreja. Ele também enviou o Espírito para a Igreja e hoje, envía-O para dentro dos nossos corações."

            A MISSIO-ECCLESIAE, ou a MISSÃO DA IGREJA, como enviada que é, se refere a: Levar a denúncia do estado de degradação e degeneração (moral, espiritual, social e físico) do homem, por causa do pecado, que provocou a interrupção do relacionamento com Deus e com o outro homem. Levar também, o anúncio, o ensino, a proclamação e a pregação das boas novas da redenção, da salvação, do Reino de Deus, a toda a criação, para que esta seja, de fato e de verdade, alcançada de maneira integral pelo Deus eterno, criador e sustentador, que quer, de maneira viva, ordenar tudo o que foi desorganizado com a entrada do pecado no mundo, não importando com que roupagem cultural ele queira se esconder.
            No entanto, ao fazer esta denúncia e este anúncio, a Igreja tem que "desafiar" a criação a se submeter ao Reino de Deus: ao poder, ao domínio, à autoridade, à soberania e à dignidade do Deus eterno, o criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que neles há, o Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Havendo uma reação favorável, ela tem por obrigação moral o dever de congregá-los e ensiná-los tudo o que o Senhor Jesus mandou. Isto é fazer discípulos!...
            Percebe-se que a MISSIO-ECCLESIAE, ou a MISSÃO DA IGREJA, é abrangente, ela engloba tudo o que a Igreja deve fazer para alcançar o homem afastado de Deus, numa dupla vocação: sendo sal sobre a terra e luz para o mundo. Em 1974, os participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne - Suiça, com o coração compungido reafirmaram a posição bíblica de que a MISSÃO DA IGREJA engloba a Evangelização e a Responsabilidade Social.[14] No entanto, é preciso tomar cuidado com esta afirmação, pois ela, naturalmente, tende a levar o homem à uma luta por uma suposta necessidade de que precisa encarar as partes em termos de prioridade. Quem é prioritário? A Evangelização ou a Responsabilidade Social? O próprio John Stott afirma que o evangelismo é prioritário. O risco da dicotomia na Missão da Igreja pode ser encarado como um entrave para esta exercer sua tarefa. Por isso, o missiólogo Sul-Africano, David J. Bosch fez um acréscimo muito importante no  conceito de Missão da Igreja defendido por John Stott em Lausanne 1974. Ele diz o seguinte:

"... em seu compromisso missionário, a Igreja sai de si mesma para o mundo exterior. Cruza toda classe de fronteiras e barreiras: geográficas, sociais, políticas, étnicas, culturais, religiosas e ideológicas. A Igreja leva a mensagem da salvação de Deus a todas essas áreas. Na realidade, a missão implica estar envolvido na redenção do universo e na glorificação de Deus."[15]

            A MISSÃO DA IGREJA origina-se da própria MISSÃO DE DEUS, e é para ser modelada nela. A palavra de Jesus para os discípulos salienta que: "... Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio."[16] Sua base de autoridade é a própria autoridade do Senhor Jesus que disse: "... Toda autoridade me foi dada no céu e na terra."[17] Atualmente estamos falando da MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA,  ilustrada no diagrama abaixo, da sua ação que desenvolve ao mesmo tempo, a liturgia, a didaskalia, a diaconia e a poimenia equilibrados, anunciando todo o evangelho, por toda a Igreja, para todos os povos, em todo o tempo.[18]


4 - O PASTOR É UM MISSIONÁRIO

O Pastor é um missionário. A palavra missionário não existe na Bíblia. É um termo que vem do latim e é correspondente ao termo grego apóstolos cujo sentido é mensageiro, enviado. O que é o missionário? O missionário é o escolhido, chamado e separado por Deus e que segue ao Senhor;[19] é o capacitado e o enviado;[20] é o ministro por intermédio de quem as pessoas  crêem em Deus;[21] é  o colaborador de Deus;[22] é o  embaixador de Cristo para a obra da reconciliação do homem com Deus;[23] é o diretor sábio de obras, que lança o fundamento, o alicerce da obra do Senhor.[24] Ele é apenas o servente. Apenas servo; nada mais que servo. Nada de ser colonizador; nada de ser senhor; nada de ser imperador; nada de ser rei. Apenas um vaso de barro onde aparece a beleza e o brilho do Diamante ou da Pérola. É apenas uma bilha de barro! Mas dentro dele tem água fresca saída do manancial de Deus, para tirar a sede das nações sedentas. Jamais o Pastor esquece textos como: Mt 5.13-16;  I Co 4.2; II Co 8.21.

A missão da redenção do homem pecador é sem dúvida a obra mais importante e mais séria que existe na face da terra. Portanto, o pastor não admite, e muito menos permite, fazer a obra sem as qualificações necessárias para tal, seja ele obreiro plantador de igreja ou cuidador de igreja  já plantada.

Ele é homem de confiança da igreja e da sociedade, de boa reputação, cheio do Espírito Santo e de fé, e de sabedoria.[25]

Ele é homem atento ao que Deus quer - que quer querer o que Deus quer - que ele faça, que está atento à orientação do Espírito Santo. Isto porque, para que haja um profícuo desenvolvimento do trabalho da Missão Integral da Igreja existem duas chamadas: O Espírito Santo chama a pessoa, e avisa tanto à pessoa quanto à Igreja; a este fato damos o nome de Chamado Interno. O outro chamado, é que tendo a Igreja ouvido a voz do Espírito Santo sobre o chamado do obreiro, ela Igreja o manda, envia este mesmo obreiro; a este fato damos o nome de Chamado Externo.[26] O Pastor entende que é preciso haver as duas chamadas; a chamada interna e a chamada externa, e que o perigo é haver uma chamada externa sem haver a chamada interna, como sempre temos visto acontecer.

O Pastor sabe que precisa de pelo menos quatro coisas muito importantes para desenvolver bem o seu trabalho: - convicção da chamada e escolha por parte de Deus;
                                 - pessoas levantadas por Deus para trabalhar com ele;
                                 - métodos e planos corretos dados por Deus, e
                                 - inteira e exclusiva dependência do Espírito Santo de Deus.
Ele é obediente à comissão que Deus lhe deu. Ele ama o Senhor, a Palavra do Senhor, o povo do Senhor e a obra do Senhor.

O Senhor Jesus Cristo, que enviou os seus apóstolos mediante a sua grande comissão, foi o primeiro a obedecer inteiramente à sua própria comissão.[27] Da mesma forma, o apóstolo, ou missionário, ou evangelista, o corajoso desbravador é o homem que abre as picadas com profunda e terna compaixão, buscando, nos montes e nos vales, a ovelha perdida, pregando as boas novas pelo amor que redime. Professores: ganhadores e consolidadores.

O Pastor pode ser obreiro de tempo integral ou obreiro de tempo parcial, aqueles que hoje são chamados de: os fazedores de tendas, homens e mulheres que usam a sua profissão a serviço da missão. Mas ele não se esquece que deve estar disposto a ser transformado. Ele não se encontra pronto; ele vai ser trabalhado e vai ser formado o obreiro que a missio-Dei/missio-ecclesiae precisa ter.  Seu caráter é ilibado. Sua personalidade está em constante transformação para o melhor.      
Atento à voz do Espírito Santo, quando qualquer decisão tem que ser tomada e não há sinal de paz interior dentro do obreiro, espera pelo Senhor e no Senhor.  Ele sabe que não precisa ter todos os dons para ser bom obreiro. Precisa, na verdade, é ser fiel. Pistós.[28]Porém, precisa do poder do alto, poder do Espírito Santo, para ser bom obreiro. Por esta razão o obreiro faz uma guarda de oração - uma vigília de oração - pela igreja, durante as 24 horas do dia; com uma pessoa por hora. Ele tem pessoas para isso. Ele não se deixar afobar por causa da situação crítica do campo e/ou das Igrejas.
           
Numa outra oportunidade continuaremos a nossa reflexão sobre nossa vida – o Pastor, a Igreja, a Missão. Nesse momento não tivemos tempo e falar sobre a Igreja. Não faltará oportunidade.

Deus nos abençoe!

Stephenson Soares Araújo.
25/11/2000

  [1] - FARIA, Ernesto. Dicionário Escolar Latino Português. 6ª ed., 2ª tiragem, Rio de Janeiro: FAE, 1985. p 343. 
  [2] - Ibid., 342.
[3] - Veja Gênesis 1 e 2.
[4] - Veja Gn 2.15-17.
[5] - Veja Gn 3.1-6.
  [6] - Veja Gn 3.7-4.24.
 [7] - Veja Gn 3.9, 11, 15.
 [8] - Veja Rm 1.1-6 e II Co 5.18-20.
 [9] - Veja Gn 1.26-27.
[10] - Veja Gn 1.28; 2.15,19-20.
 [11] - Veja Gn 12.1-3; 17.4-5.
 [12] - Veja Mt 28.18-20.
 [13] - STOTT, John R. W. The Biblical Basis of Evangelism. In: LAUSANNE. International Congress on World Evangelization. Let The Earth Hear His Voice. J. D. Douglas (ed.), n. print., Minneapolis: World Wide, 1975. p 66. (A traducão nossa.).
 [14] - LAUSANNE. International Congress on World Evangelization. Let The Earth Hear His Voice. J. D. Douglas (ed.), n. print., Minneapolis: World Wide, 1975. 1471 p.
[15] - BOSCH, David J. Evangelismo. In: Mission. Dezembro de 1977. p 7-14. (Tradução nossa.).
[16] - Jo 20.21.
 [17] - Mt 28.18.
[18] - A leitura dos textos alistados a seguir, por certo abrirão a visão do leitor, sobre a realidade da Missão Intergral da Igreja: Gn 12.1-3; Mt 4.23; 9.35-38; 4.19 e 28.19; Mt 24.14; Mc 1.32-34, 38-39; Lc 2.51 e Jo 19.25-26a; Jo 20.11-18; At 1.8; II Tm 4.1-2; Ap 5.9-10; 7.9-10; 10.11.
 [19]- Conforme  Mt 4.18-22;  Rm 1.1;  I Co 1.1; II Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; Fl 1.1; Col 1.1; I Tm 1.1; II Tm 1.1; Tt 1.1; Tg 1.1; I Pe 1.1; II Pe 1.1; Jd 1.
 [20]- Conforme Mt 4.19; 10.1-42; 28.18-20; Mc 16.15; Jo 17.18; 20.21-23.
 [21]- Conforme I Co 3.5.
  [22]- Conforme I Co 3.9.
 [23]- Conforme II Co 5.20.
  [24]- Conforme I Co 3.10.
 [25]- Veja At 6.3.
 [26]- Veja At 13.1-4
 [27]- Veja Hb 3.1; Jo 6.38; 10.36; 17.18; 20.21. Apóstolo, profeta, evangelista, pastor, mestre. Todos em Cristo Jesus, conforme Ef 4.11. 
[28]- Veja I Co 4.2.