terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

"JONAS" UMA ANÁLISE DA ATIVIDADE MISSIONÁRIA DA IGREJA!



O DEUS ETERNO CHAMOU!

“Abrão tinha setenta e cinco anos quando partiu de Harã, como o Deus Eterno havia ordenado. ”[1]
Estamos vendo um home já avançado na idade, com uma boa bagagem de observações e experiências vividas, mudando de um lugar para o outro, para um lugar que nem nós e muito menos ele conhecia e nem sabia onde ficava. O que será que estava acontecendo? O que pode fazer um homem de setenta e cinco anos levantar a barraca e partir? Vejamos:
“Certo dia o Deus Eterno disse a Abrão: - Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai e vá para uma terra que Eu lhe mostrarei. Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu abençoarei você, e o seu nome será famoso, e você será uma benção para os outros. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. E por meio de você todos os povos do mundo serão abençoados. ”[2]
Ora pois, o Deus Eterno chamou um homem, e o removeu do seu lugar com a idade de setenta e cinco anos simplesmente para usá-lo como instrumento de sua bênção com o objetivo final de que todos os povos da terra fossem abençoados por Deus. Uma questão surge agora e, nela pretendemos trabalhar mais tarde: Que tipo de bênção Deus tinha reservado para todos os povos? Qual era a bênção? Mas, existe um fato revelado no relato acima para o qual devemos atentar nesse desdobramento da revelação que Deus faz de si mesmo: o Deus Eterno quer e vai levar a sua bênção para todos os povos, para todas as famílias da face da terra.
“Quando o Deus Eterno viu que Moisés estava chegando mais perto para ver melhor, Ele o chamou do meio da moita e disse: Moisés! Moisés! Eu estou aqui respondeu Moisés.... Agora venha, e Eu o enviarei ao rei do Egito para que você tire de lá o meu povo, os israelitas. ”[3]
Eis aqui outro relato maravilhoso e muito importante, não só para Israel, mas também, para todos os povos da terra. Deus chamou Moisés para participar na obra da redenção; para trabalhar em favor da redenção, da libertação do homem oprimido, escravizado pelas forças da maldade, da violência, da opulência, da injustiça, da desonra, consequentes da determinada vida de pecado tanto de Israel como de todos os povos da face da terra.
Dietrich Bonhoeffer falou sobre quatro mandatos ou instituições na tarefa de Deus delegadas ao homem para o seu serviço: de trabalho, de casamento, de governo e de Igreja.[4] Abraham Kuyper resumiu estes quatro mandamentos a dois: o cultural e o redentor. O mandamento cultural chama toda a humanidade a participar na ordenança e na administração da criação, isto é, na obra da civilização e da cultura. O mandamento redentor, que começa a surgir a partir de Gênesis 12 e que se torna explícito com a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, chama o povo redimido de Deus a participar com Ele na missão da redenção.
“Quando Jesus andava pela beira do lago da Galileia viu dois irmãos que eram pescadores: Simão, também chamado Pedro e André. Eles estavam pescando no lago, com redes. Jesus disse: Venham comigo que Eu ensinarei vocês a pescar gente. Então eles logo largaram as redes e foram com Jesus. Um pouco mais adiante Ele viu outros dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Eles estavam no barco com o pai e consertavam as redes. Jesus os chamou, e eles, no mesmo instante, deixaram o pai e o barco e O seguiram. ”[5]
Ainda hoje o Deus Eterno continua chamando homens e mulheres para uma obra específica. Posso dizer que este chamado inclui dois aspectos básicos: Venham comigo e aprendam comigo! O outro é: vá pescar homens, vá libertar o povo, vá abençoar o povo! Porém, primeiro é preciso vir ao Deus Eterno: é Ele quem tem a bênção, faz a obra, ensina o que é para ser feito, como deve ser feito, o quanto, onde e quando deve ser feito. Somente depois de aprender com o Deus Eterno é que se pode ir! Somente depois de capacitado para ir onde Ele quer é que o homem conseguirá fazer o que Ele quer, como e quando Ele quer. Sair sem observar esses dois aspectos é prepotência!
Carriker[6] afirma que a falta de compreensão da importância e da relação entre o mandato cultural e o mandato redentor tem provocado grandes desequilíbrios na formulação da missão da Igreja.
“Certo dia o Deus Eterno disse a Jonas filho de Amitai: Apronte-se e vá à grande cidade de Nínive... “[7]
O Deus Eterno Resolveu chamar Jonas, um “eleito”, não por seus próprios méritos e nem somente para a sua própria bênção ou para o seu próprio gozo, senão pela exclusiva vontade, dignidade, soberania, autoridade, governo, poder, domínio e misericórdia de Deus para abençoar outro povo; não o seu próprio povo; mas outro povo, que, e acima de tudo, era seu inimigo mortal; um exemplo claro, vívido de missão transcultural.
Jonas recebeu do Deus Eterno uma tarefa específica, muito clara: “Apronte-se, vá à grande cidade de Nínive... “


[1] - Veja Gn 12.4. TLH.
[2] - Veja Gn 12.1-3. TLH.
[3] - Veja Êx 3.4 e 10. TLH.
[4] - Bonhoeffer, 1955.
[5] - Veja Mt 4.18-22. TLH. O grifo é nosso.
[6] - Carriker, 1990.
[7] - Veja Jn 1.1-2. TLH.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

"JONAS" UMA ANÁLISE DA ATIVIDADE MISSIONÁRIA DA IGREJA!



O Deus Eterno Viu!
   
             O texto relatado em Gênesis capítulo seis nos traz uma revelação relevante: Deus viu! Afinal de contas “foi Ele quem fez os nossos olhos será que não pode ver? [1]” Como poucos atentam para esse fato carece-nos de perguntar: o que foi que o Deus Eterno viu? E, porque eu não estou vendo? Atentemos para o texto de Gênesis:
                Quando o Deus Eterno viu que as pessoas eram muito más e que sempre estavam pensando em fazer coisas erradas, ficou muito triste por haver feito os seres humanos. O Eterno ficou tão triste e com o coração pesado... Noé era um homem direito e sempre obedecia a Deus. Entre os homens do seu tempo, Noé vivia em comunhão com Deus. Para Deus todas as pessoas eram más, e havia violência por toda parte. Deus olhou para o mundo e viu que estava cheio de pecado, pois todas as pessoas só faziam cosas más.[2]
                A maldade se desenvolvia numa velocidade crescente; a iniquidade aumentava a cada instante; o amor caiu não só no conceito como também no valor! A declaração de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na revelação que faz aos seus discípulos sobre a progressão do mal diz que: “A maldade vai se espalhar de tal maneira, que o amor de muitos esfriará...[3]
Para Finney: “O amor consiste na escolha do mais alto, do mais elevado bem para Deus, para o homem, para o universo todo, como uma finalidade em si, devido ao seu valor intrínseco, em um espírito ou atitude de total consagração a este, como o objetivo final da existência.[4]
 O contraste percebido logo depois de um tempo da criação revela quão grande é a distância entre as condições presentes no momento da visão: no início viu Deus tudo o que havia sido feito e eis que tudo era bom! Agora, viu Deus a maldade progredindo! Logo após a criação do homem o Deus Eterno lhe dá as instruções de vida e lhe delega a tarefa de administrar a obra da criação, o que deveria ser feito debaixo da direção de Deus segundo seus princípios normativos. Era preciso “administrar tudo que Deus criou, conforme a vontade de Deus, para a glória de Deus e, para o bem de todos.[5]” Isso é amor! Amor a Deus, à Palavra de Deus, à obra de Deus e ao povo de Deus!
No entanto, o Deus Eterno viu o crescimento da violência, da maldade; a visão da progressão do mal lhe pesou o coração que entristeceu: ver o homem distanciado do seu objetivo, da sua missão doía muito. O homem não mais buscava o melhor para o Deus Eterno, para o homem e para o universo todo. O Deus Eterno viu o homem...
Carriker diz assim: “Gn 1.27 esclarece quanto aos sujeitos da imagem de Deus no homem; Gn 1.28 esclarece quanto ao conteúdo da função dada ao homem de “dominar” a criação. Elabora a imagem de Deus no homem em três áreas de responsabilidade e administração: a sua experiência social e familiar (“multiplicar”, “encher”, “dar nome”.); a responsabilidade econômica e ecológica (“sujeitar”, cultivar”, “guardar”.); e o governo (“dominar”, “dar nome”.). Estes mandamentos – Gn 1.28; 2.15, 18-25 – marcam o início de uma série de obrigações: o mandato para a família e a comunidade, a lei e a ordem, a cultura e a civilização que se alarga e se aprofunda ao longo do desdobramento da revelação divina. Deste modo Deus chama a humanidade para o papel de vice regente sobre o mundo; todos devem participar responsavelmente nesta tarefa.[6]
Pode-se afirmar que a queda na maldade e violência é consequência do fato de o homem não prestar atenção no que o Deus Eterno estabeleceu para ele.[7] Tudo ficou errado! A destruição da obra criada e do próprio homem se manifestou de forma exacerbada! As Escrituras Sagradas nos revelam o que se pode ver: o sofrimento, a aflição, a angústia, o desespero, a decepção, a frustração, a desonra; aflitos, agoniados e desamparados: esta é a situação do homem; isso é o que o Deus Eterno viu! Isso eu, o missionário e a Igreja precisamos ver! Em um outro relato a Bíblia Sagrada nos declara:
“Então o Deus Eterno disse: Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito; tenho ouvido o seu pedido de socorro por causa dos seus feitores. Sei o que estão sofrendo. ”[8]
O Deus Eterno sabe que o homem está sofrendo, sabe o que é o sofrimento e porque ele sofre. No entanto, Ele não fica só no ver! Ele viu a grande cidade de Nínive que na ocasião da revelação a Jonas estava dominada pela maldade e violência. A iniquidade crescera até chegar aos ouvidos de Deus. Ora pois: “Foi o Deus Eterno quem fez os nossos ouvidos, será que não pode ouvir? ”[9]
“A grande cidade de Nínive era a capital do grande império da Assíria, nação inimiga mortal do povo de Deus. Esta ousada e poderosa raça era um rebento do velho Império Babilônico. O fim da política da Assíria era destruir a unidade racial dos povos conquistados. O Israel do Norte perdeu todo o seu sentido político e religioso tornando-se simplesmente uma colônia do grande império Assírio. Na breve história do Israel do Norte ficou demonstrada a grande verdade de que a prosperidade, a oportunidade e cultura não desenvolvem necessariamente um caráter nacional. Por outro lado, por meio de seus profetas, o Deus Eterno deu ao mundo certas verdades a respeito da justiça de Iahweh e do Seu amor que se tornaram pedras angulares da fé entre a humanidade. A destruição do Israel do Norte por parte da Assíria foi a grande lição que o Deus Eterno deu ao mundo. Enquanto o povo se mantém fiel há prosperidade e paz; quando o povo se esquece do Deus Eterno tudo desaparece! Esta tem sido a lição que a maioria dos povos não tem querido aprender. [10]
O Deus Eterno viu a grande Nínive, a capital do grande Império da Assíria que Ele mesmo usara como instrumento de disciplina para o povo que era d’Ele. Nínive estava dominada pela imoralidade, violência, injustiça social, idolatria, promiscuidade sexual, orgia, glutonaria, luxúria, bebedeira, ociosidade e opulência. Nínive estava dominada pela maldade. “ ... A maldade daquela gente chegou aos meus ouvidos. ”[11]


[1] - Veja em Sl 94.9. TLH.
[2] - Gn 6.5-11. TLH. O destaque é nosso.
[3] - Mt 24.14. TLH.
[4] - Finney, 1846.
[5] - Mandato Cultural. José Martins, 1990.
[6] - Carriker, 1990.
[7] - Veja Gn 3.1-19.
[8] - Veja Êx 3.7. TLH.
[9] - Veja Sl 94.9. TLH.
[10] - Mesquita, 1954. O grifo é nosso.
[11] - Veja Jn 1.2.