NA MINHA AFLIÇÃO CLAMEI POR SOCORRO!
Que coisa interessante! Jonas adorava o Deus Eterno e fugia
do compromisso com este mesmo Deus Eterno. Penso que a lição à frente da qual
estamos abraça em cheio a Igreja, a você e a mim neste presente contexto de
tempo e local em que vivemos. E esse abraço nos constrange a avaliar conceitos
e preconceitos que formamos e, à luz da Palavra de Deus nós o faremos, pois queremos servi-Lo, como Ele
quer e onde Ele quer ser servido. É sabido que nossa cultura nos predispõe a
formar pressuposições, que nos influenciam no entender e responder à Palavra de
Deus. E esses pressupostos muitas vezes fazem com que tenhamos uma visão
distorcida dos fatos lembrando que a percepção da realidade não é absoluta no
homem e que a percepção da realidade não pode ser confundida com a própria
realidade.
Nossa cultura influencia nossa
teologia. Conceitos como “Reino de Deus”, “Eleição”, “Aliança”, “Promessa”,
“Lei”, “Universalismo”, “Pecado”, “Soberania de Deus”, “Comunhão de Deus com o
homem”, “Salvação” e “adoração”, precisam ser examinados e refeitos se
necessário, não apenas orientado pelas pressuposições que nossa cultura nos
induz a ter, mas sob o crivo da Palavra de Deus, naturalmente observando: A
cultura do homem que Deus usou para escrever o texto bíblico, a cultura do
homem que Deus usou para nos falar sobre a Sua Palavra, a nossa própria cultura
e a cultura do povo para quem vamos expor a Palavra de Deus.
Fechado no cerco de conceitos e preconceitos, Jonas não pode entender e nem aceitar que ele, um “eleito”,
devesse caminhar até uma nação inimiga e apresentar a ela uma oportunidade
validade, em nome do Deus Eterno, para sair da aflição e do estado de exaustão,
de abandono, no qual a grande cidade de Nínive estava vivendo.
A cultura da sociedade onde
Jonas estava inserido, já secular, quem sabe, milenar, o impedia de ver que a
“eleição” pode ser representada por uma moeda: ela em duas faces. Uma é a face
que mostra a escolha feita pelo Deus Eterno, de um homem, de uma família, de
uma nação, da Igreja, para o serviço do Senhor, de levar a diante a mensagem
que este mesmo Deus Eterno proclama a todos os povos da Terra; escolha esta
feita pela exclusiva soberania de Deus, orientada por sua exclusiva vontade e
misericórdia, que não depende das qualidades ou dos possíveis méritos de homem
nenhum e de cultura nenhuma. Esta eleição, basicamente, não gera privilégio de
“status quo” senão responsabilidade e serviço. A outra face diz respeito à
eleição que o homem faz de Deus, de Seu chamado, de Seus princípios de vida e
de serviço, num determinado contexto de lugar e tempo, como resposta fiel e
obediente ao Deus que o elegeu. Foi difícil para Jonas responder à eleição por
parte de Deus com a eleição a Deus.
Também foi difícil para Jonas
encarar a “aliança” como resposta fiel e obediente por parte do escolhido por
Deus. A “aliança” estabelecida por Deus para proteger, guardar, livrar do mal,
requer do protegido e guardado uma resposta fiel e obediente manifestada na
resposta da guarda dos preceitos e princípios da “lei” de Deus, não para entrar
na aliança, mas porque já está na aliança e para permanecer dentro dela. O que
o Deus Eterno quer do “eleito” é fidelidade e obediência.
Pelo visto, o conceito que Jonas
tinha sobre a “Soberania de Deus” e “Reino de Deus” era amplo. Ele sabe que o Deus Eterno
é o criador do céu, da terra e do mar; sabe que o Deus Eterno controla, dirige,
governa, administra todas as coisas, todas as pessoas, todos os reinos
terrestres; sabe que nada escapa ao controle do Deus Eterno!
“Eu sabia
que és Deus que tem compaixão e misericórdia. Sabia que és sempre paciente e
bondoso e que estás sempre pronto a mudar de ideia e não castigar. ” [1]
Carriker diz assim:
“O Reino
de Deus é a sua administração sobre toda a criação que, por sua vez, demanda a
resposta de adoração e compromisso, uma obrigação que tem ramificação na vida
pessoal e social, que atinge fundamentalmente a pessoas e, através delas, todos
os seus relacionamentos familiares, comunitários, econômicos, políticos, etc. O
convite para entrar no Reino de Deus implica numa aliança com Deus. ”[2]
Mas eu não estou aqui para
criticar o Jonas ou quem quer que seja. Eu não estou aqui para olhar para os
erros de uma pessoa, de uma instituição, de uma igreja, querendo derrubá-la com
pedradas, porretadas e cacetadas. O que eu quero, e esta é a minha proposta: se
cheguei a ver a dificuldade e o erro do outro, quero aprender com aquele erro
para não o cometer revendo constantemente as minhas “práxis missiones”; e quem
sabe, ajudá-lo a fazer a reflexão sobre o caminho do que é certo e verdadeiro,
à luz da Palavra de Deus. Venho aprendendo essa lição no maravilhoso livro dos
Provérbios:
“Eu andei pelos campos e plantações e uva de
um homem tolo e preguiçoso. Tudo estava cheio de espinhos e coberto de mato, e
o muro de pedras havia caído. Olhei para aquilo, pensei bem e aprendi a
seguinte lição: Durma um pouco mais, cruze os braços e descanse um pouco mais;
mas, enquanto você estiver dormindo a pobreza o atacará como um ladrão armado.
”[3]
Nesse caso eu preciso ter
cuidado, muito cuidado mesmo. Como já o disse eu não estou interessado em uma
crítica fria, destruidora. É muito fácil criticar o erro dos outros! Estou
interessado sim nas lições que conduzirão a mim, a igreja e aqueles que porventura
lerem essas considerações para uma mudança de atitudes e de atos. Consideramos que o limite do verdadeiro é
sempre o aperfeiçoamento; isso pode ser feito pela depuração do conhecimento, o
que nos leva a rever os rumos do nosso pensamento, no ato de conhecer e
expressar as verdades, transformando o “pensar” (conhecimento), o “agir” (ação)
e o “julgar” (julgamento), mudando o que deve ser mudado e enquanto deve ser
mudado, na medida das verdades. Daí a necessidade constante da crítica e da
reflexão do ato e da ação, ou seja, da atitude e do comportamento pelo combate
acirrado contra as causas lógicas e morais do erro.
“Há muitas pessoas que pensam que são puras,
mas sua sujeira ainda não foi lavada. Há pessoas que são tão orgulhosas, que
olham os outros com desprezo. ” [4]
Carriker
ensina o seguinte:
“A pregação missionária do Reino é, antes de
tudo, uma chamada à adoração e ao compromisso com Jesus, que por consequência e
como parte deste chamado, convoca uma transformação em todas as relações humanas.
”[5]
A pouco tempo atrás Jonas
declarou: “Adoro o Eterno, o Deus do céu, que fez o mar e a terra. A nossa
vocação missionária é também é vocação para adoração. E no nosso comportamento
missionário corremos o risco de nos perder nas linhas e entrelinhas da nossa
ação e perder o correto sentido da adoração que devemos desenvolver.
D. Hesselgrave fez a seguinte
declaração que pode nos ajudar:
“Há pelo menos seis palavras gregas no Novo
Testamento que podem ser traduzidas por “Adoração”. Cada uma delas revela algum
aspecto daquilo que é adoração. 1 - PROSKUNEÕ é a palavra mais comum para
adoração. Significa “beijar em direção de”, “beijar os pés”, “ajoelhar”. 2 -
SEBAZOMAI retrata um ato de temor e medo reverenciais. 3 - EUZEBEÕ indica
piedade e reverência, e se liga a Sebazomai. 4 - THERAPEUÕ significa curar por
manipulação com as mãos, como na massagem. 5 - LATREUÕ significa serviço
prestado a Deus. É serviço à deidade da parte tanto do sacerdote como dos
leigos. 6 - LEITOURGEÕ significa serviço prestado a Deus. É o cumprimento de um
serviço, de um ofício, num sentido representativo. Resumindo: O significado do
culto no Novo Testamento é a adoração acompanhada por algum tipo de serviço
prestado Àquele que inspira reverência. Em Mt 8.1-4, no versículo 2 Adorar é
PROSKUNEÕ e envolve três elementos: (1) a percepção do senhorio de Jesus
Cristo; (2) o reconhecimento de sua vontade soberana; e (3) o reconhecimento do
Seu Poder. Este é o culto verdadeiro. ” [6]
Jonas caiu numa enrascada; foi
ao fundo do abismo; viu o tamanho de sua necessidade a despeito de não
conseguir ver a necessidade dos moradores da grande cidade Nínive. É! É preciso
descer! Que seja esta descida espontânea! Assim é melhor! Se a descida é
forçada por causas exteriores ao homem a vergonha é bem mais evidente e o valor
da descida pode ser bem reduzido para se ter a percepção da necessidade dos que
estão ao nosso derredor. É preciso aprender a lição da condescendência. Esta é
um dos maravilhosos atributos do amor. O homem condescendente é aquele que
transige espontaneamente; ele cede de livre e própria vontade, é voluntário.
Jonas desceu; e desceu bem fundo! Foi de livre e espontânea vontade? Não! Foi
forçado! É claro! Mas desceu! Desceu para aprender que tem necessidades, para aprender
que os outros também têm necessidades e que estas só podem ser supridas
satisfatoriamente pelo Deus Eterno, o Criador Todo Poderoso. No fundo do seu
desespero Jonas faz o seguinte clamor:
“Ali, de dentro do peixe, Jonas orou ao Deus
Eterno, o seu Deus dizendo: “Ó Deus Eterno, na minha aflição clamei por
socorro, e Tu me respondeste; do fundo do mundo dos mortos, gritei, pedindo
socorro, e Tu ouviste a minha voz. Tu me atiraste no abismo, bem no fundo do
mar... Tu, porém, me salvaste da morte, Ó Deus Eterno, meu Deus. ” Quando senti
que estava morrendo, eu me lembrei de Ti, Ó Deus Eterno, e a minha oração
chegou a Ti, no teu santo Templo... A Salvação vem do Deus Eterno”.[7]
No meio de sua própria aflição e
desespero foi fácil para Jonas clamar a Deus por sua própria salvação. Porém, o
seu interesse pelos habitantes da grande cidade de Nínive, pelas suas aflições,
pelos seus desesperos, por suas lutas, por estes Jonas não se interessava.
Afinal de contas eles eram idólatras, eram de outra cultura, eram inimigos! Era
isso mesmo que eles mereciam: a morte! Nada mais!
Já, desde muitos anos atrás,
tenho feito este pedido a Deus: Ó Deus Eterno, abra e desvenda os meus olhos; fazei-me ver a necessidade dos outros! Abra os meus ouvidos e capacita-me a
ouvir os apelos dos outros. Ajuda-me caminhar em direção aos carentes! Ajuda-me a ajudar os outros! Há muitas pessoas
aflitas, exaustas, abandonadas, carentes! Carentes de tudo! O meu Senhor Jesus
Cristo me ensinou o seguinte:
“Vocês costumam
dizer: “mais quatro meses, e teremos a colheita. ” Porém, olhem e vejam bem os
campos: o que foi plantado já está maduro e pronto para a colheita. ”[8]
[1]
- Veja Jn 4.2b. TLH. O itálico é nosso.
[2]
- Carriker, 1990. O itálico é nosso. Veja também: Mt 6.9-15; Jo 3.3, 7.
[3]
- Veja que importante lição aprendemos com o erro do outro para não o cometer.
Pv 24.30-34. TLH. O itálico é nosso.
[4]
- Veja Pv 30. 12 – 13. TLH. O itálico é nosso.
[5]
- Carriker, 1990.
[6]
- Hesselgrave, 1984. Jo 4. 3-24. ARA.
[7]
- Jn 2.1-9. TLH. O itálico é nosso.
[8]
- Jo 4.35. TLH. O itálico é nosso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário